Carta Aberta à rede Laureate
Para: À sociedade civil
Nós, estudantes de arquitetura e urbanismo da Universidade Anhembi Morumbi, viemos a público para questionar o papel representado pela dita universidade (ou podemos dizer empresa de ensino) a partir da alteração da grade curricular apresentada aos alunos no dia 06 de dezembro de 2017, por desrespeitar o papel da academia enquanto provedora não só de conhecimento técnico, mas também formadora de profissionais responsáveis e capazes de atuar na sociedade. Em nosso entendimento, para esta formação é fundamental a troca de saberes no tempo de convivência entre mestres e alunos em sala de aula. Além da proposta em si, a forma como foi exposta, sem discussão prévia, com omissão de informações e em meio ao período de provas, indica a intenção de desarticular a organização dos estudantes e sua participação na construção de seu próprio curso. Reforça esse receio a ausência de convite de algumas lideranças estudantis com pensamento crítico e dos alunos de forma geral nas reuniões em que a proposta foi apresentada. Afinal, somos nós os clientes desta empresa?
A educação é um mercado lucrativo que tem atraído grandes grupos internacionais, porém é importante não esquecer as especificidades de uma área que tem como objetivo máximo a construção de conhecimento e formação da sociedade como um todo. A Universidade Anhembi Morumbi como instituição formadora tanto profissional quanto cívica do aluno tem por obrigação o desenvolvimento do pensamento crítico e da consciência individual. Assim sendo, o tempo de convivência do aluno em sala de aula desempenha papel primordial no processo cíclico de construção e de reflexão propositiva desenvolvida entre experiência vivida em aulas teóricas e atividades práticas.
Nesse sentido, a proposta de redução de carga horária para apenas 03 horas diárias e de sua substituição por atividades complementares em laboratório (em parte inexistentes e sem carga horária mínima estabelecida) pode pôr em risco todo o futuro profissional dos estudantes, principalmente quando já se encontra bem abaixo à recomendação expressa pelo Ministério da Educação e Cultura para a formação em arquitetura e urbanismo. É importante lembrar que o diploma não garantirá nosso futuro, se estivermos despreparados para os desafios de uma carreira na área de atuação que escolhemos. Questionamos se esta carga horária online será capaz de nos prover do conhecimento necessário, pois, conforme carta promulgada pelo próprio Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil, o ensino a distância não deve substituir o ensino presencial para a formação dos profissionais da área. A relação desproporcional entre alunos e professores em sala de aula (de mais de 30 alunos por professor, em muitas
disciplinas de projeto) somente nos aumenta a preocupação. As diretrizes do MEC recomendam uma proporção de 15 alunos por professor, metade da que nos é ofertada.
Queremos participar de uma discussão coletiva do currículo acadêmico, pois esta é a terceira reestruturação que suportamos desde 2014. Nossa participação nos permitirá também fiscalizar o serviço pelo qual pagamos e que desejamos que seja da qualidade que contratamos ao nos matricular nesta instituição. Acreditamos que a Universidade nos deseja bem sucedidos e satisfeitos com os serviços que provê, uma vez que o objetivo central alegado pela Escola de Ciências Exatas, Arquitetura e Design é a “qualidade do profissional e do cidadão que se pretende formar, a partir da atenção plena ao processo de ensino e aprendizagem”.
A partir destas considerações, solicitamos à administração da universidade e à coordenação do curso a participação nesta nova reformulação, a fim de garantir que nossos interesses sejam realmente protegidos.
Atenciosamente,
estudantes do curso de Arquitetura e Urbanismo
