Carta dos responsáveis à Assembleia do SINDSCOPE
Para: Servidores do Colégio Pedro II
Caros membros da assembleia do Sindscope,
Hoje é a terceira vez que estamos aqui fazendo uso da palavra. Mas esses minutos que falamos aqui correspondem a um tempo muito pequeno se comparados às muitas horas que pais, mães e famílias deste colégio nos relatam sobre o quão prejudicial têm sido estes dias. Acreditem, somos milhares. E esta leitura nunca conseguirá traduzir tudo que já ouvimos nos últimos dias sobre estes sofrimentos. Já declaramos nossa solidariedade aos TAEs, que dão seu suor e seu trabalho pro bem do colégio e pro bem dos nossos filhos. Já manifestamos também a nossa disposição em, a partir do término desta greve, inaugurar um novo pacto de construção coletiva da sua luta, onde a dignidade de cada trabalhador deste colégio seja problema de todos. Já escrevemos milhares de cartas aos deputados e deputadas, senadores e ao Governo Federal a fim de colaborar dentro das nossas possibilidades para que vocês se tornem exitosos nesta empreitada. E, enfim, chegou o grande dia. Temos certeza de que o acordo proposto pelo Governo Federal está aquém do que vocês consideram justo, e por isso sabemos que as negociações não se encerram aqui. Mas queremos muito dizer que chegamos no nosso limite.
Diferente de outros institutos federais, nós somos um colégio que em sua maioria é feito pela educação básica, com milhares de crianças que vão dos 3 aos 12 anos. Todos os estudos mostram a e a importância que tem a primeira infância na definição de toda a personalidade e cognição destes futuros adultos. Além disso, estudos até do próprio governo mostram o impacto da alfabetização fora do tempo para crianças nesta etapa * .
Se considerarmos que nosso colégio hoje tem seu perfil cada vez mais se voltando às camadas populares, isso se torna ainda mais preocupante. Quem tem olhado essas crianças? O que elas têm feito? O que têm comido? São crianças.
Acolhemos o argumento de que é em prol deles que a greve está sendo feita, mas não podemos negar: até quando vale este sacrifico com a insegurança alimentar deles? Com a evasão de crianças de origem popular, pois as famílias não têm com que deixá-las. Com a desistência dos adolescentes ao ingresso na universidade pública, muitos deles, os primeiros da família? Mais quantos sacrifícios faremos ?
Neste ponto é importante destacar que existem estudos realizados por servidores do próprio CP2 que apontam os alunos negros com o menor proporcional de conclusão do ensino médio neste colégio**
Por fim, nossos alunos e alunas do Napne: não há como negar que já existe um referencial teórico vasto sobre o impacto da quadra da rotina para estes alunos, sobretudo as crianças com atipicidade do transtorno do espectro autista***
Sem contar as dezenas de cuidadores e cuidadores do Napne e terceirizados que não têm a garantia de que se os empregos serão garantidos.
É por isso que pedimos, por favor, nenhum dia a mais de greve. Somos muitos, também temos necessidades, também temos problemas e também precisamos ter o direito à educação, ainda que não seja a educação que sonhamos com uma estrutura física e humana que merecemos. E, finda a greve, sigamos juntos lutando contra os cortes de orçamento na educação e para que o governo cumpra o que prometeu em campanha: prioridade em investimento em educação e saúde pública, essencial para melhorar a vida das camadas populares. Se é prioridade, o Governo Federal precisa arrumar espaço no orçamento para isso. Não queremos explicações sobre regras fiscais, queremos verbas para valorizar as políticas públicas que são essenciais para as camadas populares no país.
Confiamos que você entenderão nosso apelo e retomarão as aulas imediatamente.
*https://www.gov.br/mec/pt-br/crianca-alfabetizada/cartilha.pdf
**https://www.e-publicacoes.uerj.br/periferia/article/view/70433
***https://scholar.google.com/scholar?hl=pt-BR&as_sdt=0%2C5&q=a+import%C3%A2ncia+da+rotina+para+a+crian%C3%A7a+autista&btnG=#d=gs_qabs&t=1713375756702&u=%23p%3D-XBJ8s4d1c0J
