Manifestação de apoio à nova diretora da BPERS

O Coletivo Nacional de Bibliotecários e Bibliotecárias Negras, que reúne mais de 150 integrantes das 5 regiões do país, vem a público manifestar total apoio à nova diretora da Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul (BPERS), Ana Maria Souza, para que tome posse das suas atribuições na gestão da unidade.

Ana Maria Souza tem 20 anos de experiência na área de Biblioteconomia, é pós-graduada em Gestão de Conhecimento e coordenou por 22 anos diversos setores da Petrobrás relacionados à sua área de formação. Concursada, Ana Maria Souza tem desempenhado funções na Biblioteca Lucília Minssen, na Casa de Cultura Mário Quintana e no Sistema Estadual de Bibliotecas. Sua vasta experiência a tornam capaz de assumir essa gestão e desempenhar um trabalho exemplar que envolve ciclos de palestras, exposições itinerantes, digitalização de acervo entre outras funções inerentes ao cargo.

Em 150 anos de existência é a primeira vez que a BPERS tem à frente uma diretora negra, embora tardia, é uma conquista que reflete a luta e a resistência negra no Estado. A notícia divulgada hoje, 16 de março de 2023, motivo de celebração para toda a comunidade bibliotecária foi ofuscada pelo anúncio em redes sociais de uma manifestação contrária à entrada da nova diretora com o suposto argumento de estar em defesa da Biblioteca Pública. Entretanto, entendemos que a entrada da nova diretora é legítima ao passo que cargos de direção não são vitalícios e a diretora que estava atuando até o momento, já havia ocupado o cargo durante 20 anos.

Gera estranheza que um cargo público do universo administrativo tenha aspectos de vitaliciedade e que sejam movidas ações para que outras pessoas não ocupem os cargos, haja vista que os cargos são de livre nomeação e livre exoneração. A alternância de gestão oxigena e permite que entrem ideias novas e que se possa fazer com que o ambiente informacional seja mais plural.

No Estado, que recentemente tomou as páginas dos jornais pela prática disseminada de trabalho análogo à escravidão é importante que as bibliotecas públicas sejam munidas de arsenal antirracista e anti reescravização e que essa discussão também se reflita na ocupação de cargos por pessoas negras. Esse mesmo Estado em que um parlamentar defende a escravização da população migrante baiana, majoritariamente negra, precisa que a população alvo dessa espécie de violência tenha nas bibliotecas públicas um lugar de acolhimento e acesso à informação.

As pessoas brancas que ocupam os cargos de gestão não tiveram que provar suas aptidões aos cargos, sendo construídos pelos anos concentrando oportunidades ou pelo pacto narcísico que escamoteia todas as fragilidades intelectuais e gerenciais. É possível também questionar quantas pessoas negras foram formadas nos últimos 20 anos no estado e quantas ocupam cargos na biblioteconomia. A representação de pessoas negras nos espaços de poder é importante, mas não desejamos que elas estejam sozinhas, sem apoio e sem pares para dar sustentação ao enfrentamento do racismo institucional que tem suas milhares de formas de destruição das pessoas negras nos seus ambientes profissionais e nas suas individualidades, afetando sua saúde mental e gerando sofrimento psíquico.

Por isso reiteramos todo o nosso apoio à nova diretora e convocamos todas as pessoas que se intitulam antirracistas a endossar essa iniciativa e defender o direito de acesso da população negra em todos os espaços que lhes são de direito.

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