Contra a implementação de Escolas cívico-militares em São Bernardo do Campo
Para: Secretaria de Educação do Estado de São Paulo
APEOESP Subsede de São Bernardo do Campo:
Nós, professores, educadores e cidadãos comprometidos com a educação pública de qualidade e a promoção de uma sociedade democrática e inclusiva, viemos por meio deste documento manifestar nosso veemente posicionamento contra a implementação de escolas cívico-militares no Estado de São Paulo.
O governo paulista anunciou no final de julho uma lista de mais de duas mil escolas em todo o estado "elegíveis" ao programa Escola Cívico-Militar. Apenas em São Bernardo do Campo, quarenta e quatro escolas foram apontadas como aptas a aderirem ao programa, das quais oito deram, através de seus respectivos diretores e diretoras, aval para o início das consultas.
Uma destas escolas carrega o nome do jornalista Vladimir Herzog. Vlado, como era chamado, trabalhava na TV Cultura quando foi intimado pela ditadura civil-militar a se apresentar ao DOI-CODI, onde acabou por ser preso, torturado e assassinado barbaramente por militares em uma cela do DOPS no dia 25 de outubro de 1975. O simbolismo desta escolha é sintomático do momento vivenciado por nós no Estado. São Paulo é hoje governado por representantes assumidos do legado bolsonarista, e não por acaso, apologistas do regime instaurado após o golpe militar de 1964, que durante vinte e um anos foi marcado pelo autoritarismo e o terrorismo de Estado em nosso país, responsável por um glossário de crimes que muito aproximam-se das atrocidades praticadas pelo
nazifascismo.
Este ato escandaloso gerou grande repercussão nas mídias digitais, o Instituto Vladimir Herzog, o Sindicato dos Jornalistas de SP, a família Herzog e o jornalista Juca Kfouri posicionaram-se publicamente repudiando esse verdadeiro escárnio à memória de Herzog. A estas manifestações somaram-se a reação da Apeoesp de São Bernardo, da comunidade escolar e dos movimentos sociais e estudantis da cidade, que levaram a gestão da escola a emitir um comunicado - embora não oficial -
declarando que não seguirá com os protocolos para eventual militarização. Esta pequena, porém expressiva vitória não deve nos acomodar, deve ser o combustível para que nos mobilizemos efetivamente, visando impedir que as demais escolas sob a tutela da Diretoria de Ensino de São Bernardo do Campo selecionadas no momento venham a aderir ao famigerado programa.
São as escolas:
Vladmir Herzog - bairro Centro
José Jorge do Amaral - bairro dos Fincos
Jacob Casseb - bairro Alvarenga
Antônio Nascimento - bairro Jordanópolis
Amadeu Olivério - bairro do Rudge Ramos
Julieta Vianna - Vila Rosa
Neuza Figueiredo Marçal - bairro Assunção
Jean Piaget - bairro dos Casa
Joana Motta - São Caetano do Sul.
Não ironicamente, todas estas unidades carregam o nome de profissionais da educação, o que ilustra como nós educadores estamos sendo afrontados pelo governo estadual, que pretende nos colocar sob a tutela da hierarquia militar e da Secretaria de Segurança Pública.
Pedimos que este abaixo-assinado seja levado em consideração com a devida atenção e que medidas sejam tomadas para garantir que a educação em São Paulo permaneça um pilar de inclusão, criatividade e respeito a diversidade.