MARCO REGULATÓRIO DAS RODAS DE SAMBA DO RIO DE JANEIRO
Para: Todas as pessoas
Em nome deste coletivo que assina esta carta, expressamos o nosso profundo lamento pela forma como vem sendo tratado o movimento das rodas de Samba.
As rodas de samba constituem um movimento social que é a maior força de expressão urbana e popular da cultura carioca há pelo menos 25 anos. Contribuem em vários aspectos da vida social, cultural, econômica e política da cidade do Rio de Janeiro. Como por exemplo, a geração de postos de trabalho remunerados, efeitos positivos nos índices de segurança nos locais e arredores onde são realizadas as rodas de samba. Além dos aspectos de fortalecimento de ancestralidade e identidade que firmam os princípios de Dignidade. Visto que as rodas de samba são expressões de uma das maiores movimentações culturais do planeta, que tem sua prática há mais de cem anos, de atividades crescentes e relevantes, ininterruptamente
Recentemente, na Roda de Samba Pede Teresa, ocorreram dois fatos que deixam explícito a forma desrespeitosa e injustificável como o samba vêm sendo tratado no cotidiano. Atos de racismo praticado durante o evento no dia 19 de julho, na praça Tiradentes, mostraram como ainda precisamos ser ativos e atentos nessa luta.
Considerando esses efeitos do racismo do cotidiano, no dia 02/08, na Praça Tiradentes, o Pede Teresa realizou um evento de promoção do debate sobre racismo, junto com a roda de samba. Próximo do horário do termino, o evento foi interrompido por uma operação de segurança de vários órgãos. E sem entrar em detalhes de mérito ou culpa, ficou evidente a insensibilidade e desprestigio com algo tão caro e importante para a construção da cidade.
A roda de Samba Pede Teresa acontece nas sextas feiras há pelo menos oito anos. A roda integra um circuito de rodas de samba que intercalam as sextas feiras, há seis anos, juntamente com o Balaio Bom e Festa da Raça.
Vejam, parece roteiro, mas é vida real!
Sim, após experenciar, em nosso movimento social, atos de racismos, a roda teve seu evento interrompido por uma operação de forças Municipais e Estaduais. Mesmo fazendo parte do circuito da Praça Tiradentes que compõe um dos três maiores movimentos de samba de Rua da Cidade do Rio de Janeiro - juntamente com o Pagode do Chinelo e o Quintal da Magia. Portanto, o ocorrido com Pede na Tiradentes demostra insensibilidade pública, desprestígio e desrespeito às nossas práticas e contribuições das rodas de samba para a sociedade carioca.
Para além desses fatos temos outros: rodas de sambas importantes que fazem parte da historia e são relevantes para o movimentos das rodas, têm sofrido efeitos de certa indisposição e insensibilidade, e muitas vezes descaso do poder público. Especialmente as que acontecem no centro do Rio de Janeiro, movimentos de Rodas fundamentais como as da Glória e da Pedra do Sal, por exemplo.
Norteado e balizado pelo Decreto que criou o Programa Rede Carioca de rodas de samba, pela Lei de Incentivo, Fomento e Salvaguarda do samba Carioca, a Praça Tiradentes passou a ser mais frequentada por pessoas de vários circuitos do Rio ao longo dos últimos, em função do sucesso da ocupação das rodas de samba nessa praça às sextas. Sua importância na cultura, na mobilidade e no sentido de segurança teve seus efeitos quando artistas, músicos, comércio e a estrutura da roda de samba ocupou a Praça
Tiradentes. E hoje passada quase uma década do inicio da ocupação, já temos as sextas-feiras na praça Tiradentes como um dia certo de bom samba, bom ambiente e boa frequência na Cidade. A praça virou reduto de integração, com dia, hora e local. Frequentado por figuras renomadas como Teresa Cristina, Sergio Loroza, Elisa Lucinda, entre outros. Isso é força da movimentação das Rodas, que fez surgir um programa municipal e estadual, reconhecido e chancelado pelo executivo e pelo legislativo. As rodas de samba já são um patrimônio da cidade e precisam de mais atenção e segurança. Especialmente jurídica e política. E claro, mais respeito social e comercial, pois somos prática que estrutura o jeito de ser carioca. Por este motivo apresentamos essa petição.
Nós que participamos, compomos, articulamos e somos parceiros da prática das
rodas de Samba da Praça Tiradentes e de toda a cidade do Rio de Janeiro, sempre tivemos a postura de conversas e acordos
com a ordem e dever com o poder público. E sem querer buscar culpados ou questões que não servirão pra melhoras e avanços.
Assim, tal atitude coloca a necessidade de pleitearmos:
1) Marco Regulatório das Rodas de Samba do Rio de Janeiro.
2) Reconhecimento e endosso público e criação de um Plano de Ação da Manutenção das Rodas de Samba do Rio de Janeiro as sextas - feiras na Praça Tiradentes.
Tal pleito considera as nossas recentes conquistas, que por esses episódios torna
- se necessário maiores reverberações da garantia e segurança da presença das rodas de
samba, principalmente na Praça, conquistada por conversas e articulações com poder
público com a dimensão institucional que temos respeito e faz parte da nossa história do Samba Carioca:
1) a LEI GAMARRA (Lei 8076/18) – que Estabelece a Política Estadual de Promoção,
Salvaguarda, Fomento e Incentivo ao Samba Fluminense
2) E ao incentivo a prática de roda de samba pelo DECRETO RIO Nº 49.709, DE 5 DE NOVEMBRO DE 2021 - que reúne
ações de valorização, salvaguarda e fomento das matrizes do samba na cidade do Rio de
Janeiro.
Coletivo Nós pelo Samba/Rede Carioca de Rodas de Samba
As rodas de samba do Rio podem e devem permanecer!
