Revisão dos critérios estabelecidos para projetos de Ópera nos editais de fomento a cultura da cidade do Recife

Nós, abaixo-assinados, artistas, produtores, técnicos e trabalhadores da ópera como expressão cênico-musical completa, viemos, por meio deste documento, solicitar à Secretaria de Cultura do Recife maior rigor técnico na avaliação de projetos inscritos na linha de ópera dos editais do Sistema de Incentivo à Cultura - SIC Recife, bem como em programas correlatos como o PNAB Recife, diante da constante aprovação em editais de fomento à cultura de projetos culturais que não são ópera.

Primeiramente gostaríamos de definir o formato. A ópera é uma forma artística complexa e interdisciplinar que une música, dramaturgia e encenação, exigindo elementos como:
1. Libreto (texto dramático completo);
2. Partitura integral ou redução para canto e piano;
3. Proposta cênica com figurinos, cenário, elementos de cena;
4. Direção de cena e movimentação dramática;
5. Cantores líricos com formação e/ou atuação comprovada (técnica ou superior); Destacamos que cantores de ópera não apenas cantam (como cantores líricos, com técnica específica), mas também atuam.
6. Equipe artística e técnica adequada ao porte e complexidade de uma montagem operística.

Segundo a literatura e a academia:

“A Ópera (...) é um tipo de representação teatral em que a ação dramática se desenvolve através da música, vocal e orquestral. Seus principais artistas são os cantores líricos, dos quais se exige, além de cantar, que representem, que atuem nas cenas. Com sua origem peculiar, combinando música e drama. A ópera é uma forma complexa de encenação que, ao longo dos anos, sem pedir licença a ninguém, foi se apoderando alegremente dos componentes das outras artes. Nos dias de hoje, é o mais multimídia de todos os tipos de espetáculo.”
— SERGIO CASOY (2007), em seu livro A INVENÇÃO DA ÓPERA.

No entanto, temos observado que, ano após ano, a linha de ópera do SIC e PNAB (Recife) vem contemplando projetos que não se enquadram nesses critérios, prejudicando diretamente a realização de verdadeiras montagens de óperas. Especificamente, chamamos a atenção para a aprovação de recitais de árias ou compilações de trechos operísticos que, embora relevantes no campo da música de concerto, não constituem uma montagem de ópera e, portanto, deveriam ser analisados na linha de música - e não de ópera.

Sabemos que uma montagem operística, com orçamento elevado, pode contar com centenas de profissionais em cena e fora dela e gerar uma produção onde não há limite para o luxo do espetáculo, como é o caso de montagens de teatros de ópera internacionais, como o Metropolitan Opera House, o Alla Scala de Milão ou mesmo teatros nacionais como os Municipais do Rio de Janeiro ou de São Paulo. No entanto, muitos diretores de cena preferem a simplicidade, reduzindo cenários ao mínimo necessário, e, às vezes, vestindo os personagens com trajes da atualidade, buscando com isso expressar mais o aspecto íntimo do drama do que sua exterioridade (CASOY, 2007). Com isso, pode-se realizar produções de baixo orçamento, mantendo o bom gosto e investindo na criatividade.

Não somos contra a realização de Recitais, com árias ou coros de ópera, mas estes têm um custo muito menor que a montagem de um espetáculo operístico completo. Não há como haver comparação, em termos de gastos, sendo injusta a aprovação de recitais em detrimento daquilo que deveria ser o foco principal da linha: Montagens de Ópera. É injusto com os trabalhadores da área e com o próprio público de Recife, a privação de espetáculo de ópera na aprovação dos trabalhos desta linha, nos editais da SIC do Recife.

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