Reparação já
Para: Governo do Estado da Bahia. Gabinete do Governador do Estado da Bahia
Exmo Sr.
Jerônimo Rodrigues
Governador do Estado da Bahia
Vimos por meio deste instrumento solicitar REPARAÇÃO total dos danos causados pelo INEMA – Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, órgão da Secretaria de Meio Ambiente do Estado da Bahia, que no dia 10 de junho de 2025, de posse de um documento extra judicial, invadiu as dependências do nosso templo sagrado, juntamente com um efetivo da Policia Militar da Bahia, um representante da Casa Civil e uma empresa contratada para demolição, violando nosso espaço sagrado e destruindo com uma retroescavadeira o Ilê Axé Oya Onira´D.
Nós somos negros, mas temos direitos assegurados na Constituição Federal, onde no seu artigo 215 diz que “o Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional”. Entender esses diferentes grupos como pertencentes a povos e comunidades tradicionais e nossa relação com ancestralidade, torna-se ainda, fundamental para o real enfrentamento ao racismo, já que a expressão INTOLERÂNCIA RELIGOSA, não da´ conta do grau de violência que incidiu sobre nosso território e sobre nosso sagrado. Esta violência constitui a face mais perversa do racismo, por ser a negação de qualquer valoração positiva às tradições africanas e sua relação com o meio ambiente, daí ´o desprezo, a falta de diálogo e violação, de um espaço comprado com muito custo e suor.
A agressão promovida pelo INEMA visa por fim, a desterritorialização do nosso axé, onde até a exigência de retirada do sagrado foi imposta com dia e hora marcada pelo órgão estatal, após a demolição feita sem ordem judicial. No entanto, qualquer ação de ordem espiritual, só será cabível e possível, caso haja um espaço adequado para que os assentamentos sejam levados e nova ritualística seja feita. No dia 19 de junho, prazo dado para a retirada do sagrado, fomos mais uma vez abordados pela Policia Militar e ouvimos do preposto do INEMA que aquele era o prazo final e que o mesmo estava ali, “mas era um SERVO DO SENHOR”, em clara ação discriminatória, em flagrante caso de RACISMO RELIGIOSO.
Nosso povo, Exmo. Sr. Governador, é nascido e criado em Pituaçu. É esse território que Yansã escolheu para cuidar de seus filhos, para matar a fome de quem não tem o que comer, para cuidar da saúde física e mental de quem mais precisa. Nossa casa abriga e dá assistência a mais de 30 famílias, incluindo crianças atípicas, cadeirantes e idosos.
Valorizar o papel social de um terreiro é entender sua função organizacional dentro do seu território. Portanto, nós temos o direito de permanecer em nosso bairro de origem, nesse território onde plantamos nosso sagrado e nossas raízes.
Queremos reparação e o nosso Ilê Axé de novo reerguido, com área e titularidade reconhecidas. Bem como, a restituição de todos os assentamentos violados e
danificados.