O audiovisual guarulhense não pode ficar de fora da PNAB
Para: Ao Conselho de Políticas Culturais Ao Conselho Diretor do Funcultura Ao Secretário Municipal de Cultura, o SrºJoão Márcio Ferraz da Fonseca Vaz
No momento em que a cidade se prepara para receber mais recursos federais da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), nós, realizadores audiovisuais da cidade de Guarulhos, tendo à frente a Associação de Cinematografia Independente de Guarulhos (ACING), vimos por meio deste abaixo-assinado reafirmar a necessidade de que os editais da PNAB contemplem o audiovisual e que a exclusão desta linguagem que ocorreu nos editais do ano de 2024 não aconteçam novamente. Da mesma forma, reivindicamos equidade na distribuição dos recursos.
Na ocasião da exclusão, se apresentou o argumento de que o audiovisual havia sido contemplado pela Lei Paulo Gustavo, na qual os recursos foram destinados em sua maioria ao setor. No entanto, tal fato constituiu uma excepcionalidade, uma vez que a verba foi oriunda do Fundo Setorial de Audiovisual, represada por anos e liberada pelos editais da referida Lei. Ainda assim, houve muitos produtores locais que não foram contemplados com este fomento, o que mostra, por um lado, uma crescente demanda do setor e, ainda, a necessidade de investimentos ainda maiores do poder público.
O audiovisual na cidade, de forma particular o cinema guarulhense, se desenvolveu e obteve importantes conquistas com as políticas públicas de fomento que tiveram início com a Lei Aldir Blanc, ainda em sua forma emergencial durante a pandemia. Mesmo antes desta Lei, o cinema guarulhense se desenvolveu de forma independente. Foram criados coletivos, mostras, oficinas e assistimos o número de produções crescer ano a ano. Em pouco mais de uma década, o cinema se tornou uma grande expressão artística do município e o fomento a sua produção o impulsionou de forma decisiva. A política pública de fomento a produção encontrou um terreno fértil e fez com que o cinema guarulhense pudesse prosperar ainda mais.
Foram passos importantes, mas ainda insuficientes. Não contamos com uma política pública municipal voltada ao setor, seja na área de formação, produção ou difusão. Por isso, o forte caráter associativo do cinema guarulhense foi, antes de tudo, uma necessidade para a sobrevivência dos realizadores. Nos apoiamos nas filmagens, nos cineclubes e em mostras que organizamos de forma independente para exibirmos nossos filmes. Fundamos uma associação. Constituímos até mesmo ações de formação de novos profissionais e realizadores.
Neste exato momento, duas oficinas de audiovisual estão prestes a ter início. Trata-se da Oficina Filme de Bairro e da Oficina de Cinema Guarulhense, oferecidas respectivamente pela Cia Bueiro Aberto e pelo Coletivo Kinoférico, dois grupos fundados em meados da década passada, que produzem filmes e têm trabalhado na formação de novos realizadores há aproximadamente cinco anos. Em suas presentes edições, elas contam com o financiamento do edital da PNAB de 2024, o que constitui grande avanço não apenas para os grupos que a produzem, mas para toda a população que pode acessá-las diretamente ou indiretamente.
Na área de produção também há enormes conquistas. Há pouco mais de um mês, o curta-metragem Moti, dirigido pelo cineasta Andre Okuma, e que também conta com fomento de edital público, obteve uma espetacular vitória no 34º Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro, se tornando elegível ao Oscar de 2026. Esses são apenas três exemplos destacados de uma série de êxitos obtidos pelo setor nos últimos anos.
Por fim, gostaríamos de destacar que o desejo de não sermos excluídos novamente não se trata de mero corporativismo. Somos a favor que o próximo edital da PNAB contemple todas as linguagens que possuem expressão artística na cidade. Esse sentido agregador é próprio do cinema, que incorpora outras linguagens como a música, as artes cênicas, as artes visuais, a fotografia etc. Por isso, contemplar o audiovisual também é contemplar direta ou indiretamente artistas das mais diferentes linguagens, que também trabalharão na produção das obras que serão realizadas.
Acreditamos que a inclusão do audiovisual na PNAB constituirá ponte importante para o setor em atuais e futuros diálogos entre o poder público e a sociedade civil, impedindo que se repita a exclusão e ações unilaterais que, infelizmente, assistimos em um passado recente. O audiovisual guarulhense é um setor dinâmico e pulsante e se constituiu em importante ferramenta na criação de identidade local. Um olhar atento às demandas do setor beneficiará todos os profissionais da área e a cultura da cidade, portanto, também contemplará toda a população guarulhense.