Queremos a Dra. Barbara partejando no H.R.Unimed e a reativação da sala de Parto Normal do Hospital
Para: Direção do Hospital Regional da Unimed Fortaleza
A Unimed Fortaleza desativou, sem qualquer aviso aos seus usuários, a sua sala de parto normal do Hospital Regional da Unimed (HRU). 48 horas antes, proibiu a obstetra que mais atende partos normais no HRU de atender partos no Hospital. Esta decisão da Unimed fere, simultaneamente, o direito de várias mulheres (clientes Unimed atualmente grávidas e paciente da obstretra) e também o livre exercício profissional da obstetra
Solicitamos a imediata reintegração da Dra. Barbara Schwermann no quadro de obstetras autorizados a atender no HRU, seguido de um pedido de desculpas formal, assim como a manutenção e melhoria da sala PP (pré-parto e parto) do Hospital Regional da Unimed Fortaleza.
A Dra. Barbara Schwermann é a obstetra que mais atende partos normais humanizados no HRU e em toda Fortaleza. É a única médica na cidade que atende partos de gêmeos, pélvicos e PN após mais de 1 cesárea.
O “pecado” da Dra. Barbara Schwermann é respeitar as suas pacientes e seguir as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS) para o atendimento ao parto normal. Aliás, foi graças ao trabalho da Dra. Barbara Schwermann que reúne o respeito pelas pacientes com a prática de Medicina Baseada em Evidências é que foi criada, em 2007, a sala de Parto Normal (PP) no HRU.
As recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) para o parto normal afirmam que entre as “condutas que são claramente úteis e que deveriam ser encorajadas” na assistência ao parto estão as seguintes ações:
- Respeitar a escolha da mãe sobre o local do parto, após ter recebido informações.
- Fornecimento de assistência obstétrica no nível mais periférico onde o parto for viável e seguro e onde a mulher se sentir segura e confiante.
- Respeito ao direito da mulher à privacidade no local do parto.
- Apoio empático pelos prestadores de serviço durante o trabalho de parto e parto.
- Respeitar a escolha da mulher quanto ao acompanhante durante o trabalho de parto e parto.
- Não utilizar métodos invasivos nem métodos farmacológicos para alívio da dor durante o trabalho de parto e parto e sim métodos como massagem e técnicas de relaxamento.
- Liberdade de posição e movimento durante o trabalho do parto.
- Estímulo a posições não supinas (deitadas) durante o trabalho de parto e parto.
- Realizar precocemente contato pele a pele, entre mãe e filho, dando apoio ao início da amamentação na primeira hora do pós-parto, conforme diretrizes da OMS sobre o aleitamento materno.
Por outro lado, a OMS destaca algumas “condutas claramente prejudiciais ou ineficazes e que deveriam ser eliminadas” e que são procedimentos hospitalares rotineiramente usados no HRU, entre eles:
- Uso rotineiro de enema.
- Uso rotineiro de raspagem dos pelos púbicos.
- Infusão intravenosa rotineira em trabalho de parto.
- Inserção profilática rotineira de cânula intravenosa.
- Uso rotineiro da posição supina durante o trabalho de parto.
- Uso rotineiro da posição de litotomia com ou sem estribos durante o trabalho de parto e parto.
A OMS também refere nas orientações de assistência ao Parto “condutas frequentemente utilizadas de modo inadequado”, nomeadamente:
- Restrição de comida e líquidos durante o trabalho de parto.
- Exames vaginais frequentes e repetidos especialmente por mais de um prestador de serviços.
- Transferência rotineira da parturiente para outra sala no início do segundo estágio do trabalho de parto.
- Parto operatório (cesariana).
No Brasil e no mundo, o atendimento ao parto normal pode ser realizado em diversos ambientes: Parto domiciliar, Casas de Parto, Centros de Parto Normal dentro ou próximo do complexo hospitalar, Parto hospitalar em suítes de parto e Parto hospitalar em ambiente cirúrgico.
Mas o Hospital Regional da Unimed Fortaleza, em um claro sinal de retrocesso, vai na contramão das práticas mais saudáveis de assistência ao parto ao implementar a obrigatoriedade da realização do parto normal dentro de um centro cirúrgico, o que é incompatível com o respeito à liberdade de posição, livre movimentação, uso de técnicas de relaxamento e alívio da dor.
O Hospital Regional da Unimed Fortaleza tem índices de mais de 90% de cesáreas (dos 127 nascimentos no mês de julho/2014, 119 foram cesárea e apenas 8 foram através de Parto Normal, representando um índice de 93,70%) o que reflete uma tendência generalizada em todo o Brasil, que ocupa o topo do ranking das cesáreas (muito superior aos 15% considerados aceitáveis pela OMS). No entanto, diversas ações estão sendo interpostas civil e judicialmente em diversas instâncias e instituições (ANS, MPF, etc.) para reverter essa situação.
As mulheres estão a cada dia que passa mais bem informadas e conscientes dos seus direitos. Um sinal claro de que a assistência obstétrica vai ter que mudar: em 13-12-2013 ingressou na justiça a primeira ação judicial, pedindo ressarcimento por cesárea desnecessária e fundamentada em falso diagnóstico. Após ser julgada, abrirá jurisprudência para centenas de milhares de casos Brasil afora. O mesmo se passa com os casos de violência obstétrica que começam agora a ser acionados judicialmente.
A crescente mobilização das mulheres em todo o Brasil está fazendo com que diversas instituições públicas e particulares revejam as suas práticas, adotando condutas mais adequadas ao parto humanizado. O Ministério da Saúde criou o projeto Cegonha, publicou recentemente portaria de atenção humanizada ao recém-nascido, estimula o alojamento conjunto e a presença de acompanhante já é garantida no SUS e no particular por meio de Lei Federal.
Em Fortaleza, hospitais públicos implementaram/estão implementando salas PP, autorizando a presença de doulas e disponibilizando recursos não farmacológicos para lidar com a dor; no tocante ao atendimento na rede particular, já é de conhecimento público que pelo menos um hospital da cidade irá iniciar brevemente a construção de sala PP.
Subscrevemo-nos com expectativa de que o Hospital Regional da Unimed Fortaleza reflita sobre as suas condutas na assistência ao parto e proporcione aos seus usuários o que está cientificamente e internacionalmente respaldado como mais seguro, correto e adequado para o atendimento de mães e bebês.
E afiançamos que não desistiremos de reivindicar as melhores práticas na assistência ao parto. Temos esse direito em nome da saúde e bem-estar das nossas famílias. Estamos com Nelson Mandela: “Sempre parece impossível, até que seja feito”. Esperamos que o HRU Fortaleza dê o exemplo para o Brasil.