Petição contra a terceirização do Clube da Universidade USP
Para: Magnífico Reitor Professor Marco Antônio Zago
Quando os reitores morrem, é comum se dar o seu nome a uma rua da universi-
dade. Alguém um dia me perguntou qual seria a rua que eu gostaria que tivesse
o meu nome. Respondi que era aquela onde se encontra o Clube dos Professores.
[Jose Goldemberg (2003)]
Preocupam-nos sobremaneira os rumores que têm circulado, ou mais do que isso, de
que o Magnífico Reitor Professor Marco Antônio Zago estaria tomando providências para
que o Clube dos Professores (ou Clube da Universidade) da Universidade de São Paulo seja
terceirizado ainda neste ano de 2016.
Em 1986, o então reitor Professor José Goldemberg fundou o Clube dos Professores
no meio de um grande bosque na “Rua do Matão” do campus da Cidade Universitária,
aparentemente em instalações existentes semi-abandonadas, que foram reformadas para tal
fim com recursos do BID. Entrevistado em 2003 por Shozo Motoyama, Goldemberg declarou
que fundou o Clube pois “nas diversas universidades que estive, havia sempre um clube
dos professores em que podíamos almoçar e, no fim da tarde, tomar um drink ou um chá.
Além disso, sempre gostei muito daquela floresta que tem no meio do campus da Cidade
Universitária, onde está localizado hoje o Clube dos Professores (...) O Clube dos Professores
acabou se mostrando muito útil, porque acabou promovendo a interdisciplinaridade, que era
o que eu tinha em mente.”
A avaliação do Professor Goldemberg se revelou modesta. Em seus quase 30 anos de
existência, o Clube dos Professores tornou-se talvez um dos mais importantes cartões de visita
da Universidade de São Paulo, um verdadeiro símbolo da instituição, que no decorrer
de sua história recebeu um sem-número de visitantes acadêmicos provenientes de dezenas de
países, fatalmente impressionados com a paisagem — e também, é claro, com as generosas
porções ali servidas. Ilustres convidados, como o Imperador Akihito do Japão (1997) e o
Presidente da França François Mitterrand, dentre muitos outros, já fizeram suas refeições nas
dependências do Clube dos Professores. A promoção da interdisciplinaridade também
está presente no fato do local se configurar como único restaurante do campus prioritariamente destinado a professores, ponto de encontro social/acadêmico de docentes de unidades
diversas, lugar que se presta à realização de palestras, lançamentos, coquetéis e até sessões
dançantes. No que concerne aos funcionários do Clube, mais relevante ainda é mencionar a
questão do trabalho bem feito por esse pessoal. Os garçons têm longas carreiras passadas
no Clube, a maioria praticamente desde sua fundação, conhecendo bem os hábitos e
preferências de seus clientes assíduos, alguns versados em idiomas estrangeiros,
outros com formação de sommelier, estágios no exterior, enfim fornecendo um serviço de
primeiríssima linha. Tradicionalmente, o posto de nutricionista do Clube é renovado a
cada período de alguns anos; a atual ocupante, Sra. Maurea, tem a habilidade de selecionar
um cardápio que não é extenso, mas que varia bastante a cada dia, e que combina sabores
atrativos com uma culinária saudável. Não podemos deixar de mencionar a contribuição da
Sra. Reni, que ocupou a gerência do Clube durante vinte e oito anos, e que basicamente
transformou o Clube naquilo que ele é. Por último, mas não menos importante, citamos o
trabalho dedicado do pessoal da cozinha e dos bastidores, que é discreto, mas se faz apreciar.
Em virtude do exposto e concluindo, há de se preservar e cultivar o patrimônio que o
Clube dos Professores representa para a Universidade de São Paulo, e portanto vimos respeitosamente solicitar ao Magnífico Reitor Professor Zago que reconsidere sua decisão
e revogue o processo de terceirização da instituição.
