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Abaixo-assinado contra o monumento em homenagem ao Gal. Golbery do Couto e Silva (Rio Grande, RS)

Para: Prefeito Municipal de Rio Grande

No 21 de agosto de 2011, o prefeito Fábio Branco lançou a pedra fundamental do monumento em homenagem ao general rio-grandino Golbery do Couto e Silva (1911-1987). O busto do militar será instalado na Praça Tamandaré, a principal do município de Rio Grande (RS). No final de 2009, a Câmara de Vereadores da cidade aprovou a homenagem, quase que por unanimidade: apenas o vereador Julio Martins, do PC do B, votou contra a instalação do monumento.

Em Rio Grande, Golbery é tido desde sempre como cidadão ilustre, homem de bem, artífice da redemocratização, personalidade que muito ajudou a promover o nome de sua terra natal. Militarizada que é, a cidade vive reverenciando o ex-chefe da Casa Civil dos governos Geisel e Figueiredo. Por lá, a memória oficial (e oficialesca) ao redor de Couto e Silva é bastante consolidada: foi um herói.

No entanto, a História mostra o contrário. Golbery do Couto e Silva, homem que percorreu casernas do Brasil inteiro até passar à reserva, em 1952, foi sim um dos articuladores diretos da retirada militar que começa em 1978 e vai até as eleições indiretas de 1985. É dele a idéia de transição “lenta e gradual”, jogada que só serviu para inocentar torturadores e assassinos pagos pelo Estado brasileiro entre 64 e 85. É também de Golbery – chamado de “satânico Dr. Go” em publicação de Vânia Assunção – a manobra política que alçou Tancredo Neves – e José Sarney – ao poder no ocaso da ditadura.

Nem por isso, contudo, o general era um democrata. A socióloga Vânia Noeli Ferreira de Assunção, da PUC-SP, o descreveu assim, em 2007: “Interlocutor respeitado por líderes como D. Paulo Arns, Júlio de Mesquita Neto e Ulysses Guimarães. Odiado pela linha-dura e radicalmente anticomunista e antidemocrático. Nacionalista e defensor da industrialização subordinada ao estrangeiro. Pensador autodidata, eclético, de estilo rocambolesco e árido, que não dispensava consultas a pais-de-santo. Em uma palavra: controvertido”. Mais do que isso, Golbery foi um dos principais elaboradores do Golpe Cívico-Militar de 1964 que naufragou o país em 21 anos de crimes hediondos, dentre eles cerca de 500 desaparições forçadas até hoje sem esclarecimento.

Foi Couto e Silva que, em 1952, ingressou na versão brasileira da Escola Superior de Guerra dos Estados Unidos (o War College) passando a conspirar contra todos os governos anteriores à ditadura. Como golpista, seu currículo é vasto: em 55, articulou a “Novembrada”, para impedir a posse de Juscelino Kubistchek (e foi preso por isso); em 61, inventou uma fórmula parlamentarista para esvaziar o poder do presidente João Goulart, enfraquecendo as instituições democráticas e constitucionais vigentes; em 62, assumiu o comando do IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais), uma entidade mantida pelos setores conservadores para, através de vasto material de propaganda, disseminar a paranóia anticomunista no Brasil (o IPES anunciava que Jango e Brizola estariam arquitetando uma revolução bolchevique no país); em 64, foi golpista de primeira hora no movimento militar que depôs Goulart; no mesmo ano, já sob a ditadura de Castelo Branco, Golbery transferiu o gigantesco centro de espionagem e monitoramento político do IPES para o Serviço Nacional de Informações, o SNI, órgão responsável por levantar a vida de milhares de brasileiros, caçando os “inimigos da pátria” e moendo-os nas máquinas de triturar gente criadas pelo próprio Estado. Golbery também foi o principal defensor da Doutrina de Segurança Nacional, baseada no dueto segurança-desenvolvimento (e seu conceito oculto, a antidemocracia). Quando o general propôs a distensão política, no final dos anos 70, a ditadura que ele mesmo ajudou a criar e fomentar já havia desaparecido com centenas de pessoas, preso e torturado outras milhares e impelido a maioria dos brasileiros ao fino gargalo econômico da miséria pós-Milagre.

É este senhor que será relembrado, com galardões de santo – na mesma praça onde estão o Marquês de Tamandaré, Jesus Cristo e Napoleão –, como herói nacional, exemplo de civismo e rio-grandinidade. A menos que manifestemos opinião contrária. Assine este abaixo-assinado e expresse seu repúdio à instalação do monumento em homenagem ao General Golbery do Couto e Silva, pai do SNI e responsável - direto ou indireto - por 21 anos de ditadura. Seu apoio é indispensável.




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