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Abaixo-assinado Carta de repúdio à série "Conselho de Classe" do Fantástico/Rede Globo

Para: Associação Brasileira de Imprensa (ABI)

CARTA DE REPÚDIO À SÉRIE "CONSELHO DE CLASSE" EXIBIDA PELO PROGRAMA FANTÁSTICO AMBIENTADA NA ESCOLA MUNICIPAL REPÚBLICA DO PERU, RJ - NOV./DEZ. 2012.


Nós, profissionais de educação da rede pública municipal da cidade do Rio de Janeiro, publicamos aqui nosso manifesto contrário ao que vem sendo exibido no acima referido programa por concordarmos que ele em nada contribui para a melhoria da qualidade dos serviços educacionais prestados à população que destes faz uso. Pelo contrário, é de nossa opinião que a iniciativa leva, isto sim, a um aprofundamento de visões unilaterais, rasas e mesmo preconceituosas acerca da imagem do professor, do estudante e da educação pública em geral. Não pretendemos aqui traçar um veredicto irrefutável da questão, mas antes fomentar uma tentativa de debate que possa enriquecer tais visões.
Primeiro, gostaríamos de expressar nossa desconfiança com relação a grande mídia no Brasil – e a esta emissora em particular - no que se refere as suas preocupações e ações acerca do tema educação pública. É fato que no Brasil de 2011 a escola pública e seus enormes problemas foram tema central de atenção manifestado em greves nas estruturas públicas de ensino federal (universidades e colégio Pedro II, por exemplo), estadual (18 greves em redes estaduais) e municipal (dezenas de redes municipais espalhadas pelo país em greve). É fato também que as respostas dos poderes públicos a tais movimentos foram sempre o descaso e a violência, nunca o diálogo e a negociação. E a Globo? Instituição de informação que é, efetivamente informou? Na verdade, quando simplesmente ignorou os acontecimentos jogando a população na desinformação ou quando, poucas vezes, tratou de forma tendenciosa as reivindicações dos movimentos, não cumpriu seu papel.
Tal postura foi flagrante também no exemplo do Chile, em que os brasileiros não tiveram acesso pela emissora ao embate que se travava entre os chilenos em torno do tema privatização do ensino, que naquele país já se encontra implantada. Quais os motivos para este grande boicote à informação feito por uma instituição que existe com essa exata função? Não acreditamos que a emissora de maior audiência no Brasil esteja há anos cometendo erros de avaliação no que tange ao que merece ou não ser noticiado. Mais plausível é pensar que a mídia brasileira, e flagrantemente a rede Globo, tenham interesses políticos e econômicos diretamente associados a esse mesmo projeto privatizante que caminha a passos largos em nosso país, centralizado nesse momento no PNE que tramita no Congresso Nacional, capitaneado por entidades empresariais não ligadas à educação, como FEBRABAN e FIESP, e do qual a participação das entidades representativas dos trabalhadores em educação são excluídas.
Temos visto, incrédulos diante de tanta parcialidade, no horário global de domingo a noite, um grupo de professores sendo expostos a uma ridícula posição de “mãezonas” ou “superexigentes”, quando na verdade um professor é tão somente um profissional formado para aquela função e que a ela dedica seu tempo e esforço. Alguns lances e falas não podem ser usados para estigmatizar aqueles profissionais em particular e, principalmente, toda uma categoria profissional, e é exatamente esta superficialidade mal intencionada que é veiculada pelo programa. Onde está o debate que as imagens bombardeadas pelo Fantástico poderiam suscitar? Onde estão os pensadores em educação, de matrizes ideológicas variadas, a problematizar o que se vê naquelas imagens? Ou será que estes profissionais são realmente incapazes de prover às crianças e adolescentes do Brasil um serviço de qualidade? Será mesmo que o modelo de educação pública é inviável, como nos é passado pela revista global de fim de domingo?
Esta é a mensagem que vem sendo reiteradamente disseminada no programa. Porém, uma informação importante não é sequer mencionada por esta emissora que tem o dever de informar: a estrutura caótica da qual dispõem profissionais de educação e estudantes nas redes públicas de ensino. Salas de aula superlotadas, desvalorização profissional, que leva a queda na qualidade das aulas e a falta de profissionais, ausência de materiais didáticos – até papel nos falta para trabalhar –, prédios sem mínimas condições de uso, ambiente de trabalho autoritário onde a democracia deveria predominar para a construção de projetos políticos-pedagógicos participativos e transformadores, uso político das estruturas de ensino elevando interesses individuais e partidários para além das necessidades pedagógicas.
Com esta parcialidade que desinforma e com o caráter que parece nortear a série apresentada pelo Fantástico, torna-se compreensível a caricatura produzida sobre o outro personagem deste enredo, que é na verdade a razão maior de existir da escola: o estudante. Nossas crianças e adolescentes não são pessoas agressivas ou incapazes ou passivas ou outra qualquer negatividade que o Fantástico esteja tentando generalizar para espectadores que, em sua maioria, não conhecem nem tem como conhecer sobre a realidade dentro dos muros da escola. Tampouco as famílias podem arcar sozinhas com a responsabilidade da formação que se nos apresenta tão torta e carente de valores. Lembremos que pais e mães e avós dos nossos alunos passaram também pelos bancos da escola pública. A estrutura acima descrita das nossas unidades escolares, há muitos anos mantida como hoje é, só tem ensinado uma coisa há já algumas gerações, com poucas exceções que confirmam a regra e apesar do esforço da grande maioria dos profissionais das escolas: “escola não melhora a vida de ninguém”, “estudo não garante o futuro”, “pobre não aprende”, e outros absurdos.
Ora, evidentemente não concordamos com nenhuma destas conclusões, apenas estamos a tentar evidenciar a perversidade de um sistema público de ensino, de uma política pública de educação que de forma deliberada não investe na formação do cidadão, não prepara o filho do trabalhador para o mercado competitivo do trabalho, que enxerga verbas para a educação como “gasto” e não como “investimento”. Dito isto, gostaríamos de sugerir aos diretores da rede Globo uma série de reportagens que, de forma permanente, visto a importância da educação que a própria emissora costuma alardear, mostrem a dura realidade cotidiana de profissionais e estudantes nas escolas das redes públicas; cobrem o cumprimento das promessas de palanque e de programas eleitorais gratuitos sobre educação; investiguem desvios e privatizações das verbas públicas para a educação; promovam em horário nobre debates entre representantes dos poderes públicos instituídos, representantes dos profissionais da educação, acadêmicos ligados ao tema da educação, representantes de entidades estudantis, representantes de responsáveis preocupados com o futuro dos seus filhos; informem de maneira não superficial exemplos bem e mal sucedidos de outros países e suas políticas educacionais.
Sugerimos que a sempre tão influente rede Globo tome para si esta tarefa, mesmo que isso custe alguns pontos nos índices de audiência, afinal, a educação é prioridade ou não é?




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