Abaixo-assinado Chega de Demissões! Manifesto pela valorização dos jornalistas
Para: Jornalistas do Brasil
A categoria profissional dos jornalistas enfrenta dias difíceis. Num dos piores anos que já experimentou, vimos centenas de colegas serem demitidos nas redações brasileiras e também no exterior. Por aqui, Record, Estadão, Folha, IG, Band, TV Cultura, Rede TV, A Tarde cortaram funcionários. Lá fora, o El País sozinho demitiu 149 pessoas. A gota d’água para os jornalistas brasileiros foi o fim do Jornal da Tarde, após 46 anos de história.
Os cortes acontecem em redações já enxutas, em que os profissionais acumulam funções e trabalham longas horas a mais para dar conta da demanda de trabalho — na maior parte das vezes, sem receber um tostão a mais por isso. Não raro, são obrigados a escrever para mais de um veículo do grupo onde atuam, sem receber a mais. Muitos apuram, fotografam, filmam e ainda são cobrados se demoram para mandar o texto, pois “a concorrência já deu”. Redatores são cobrados para produzir reportagens, mesmo que isso signifique trabalhar fora de seu horário de trabalho. Quantas vezes, de forma cínica, os veículos publicam reportagens de destaque cobrando governos sobre a contratação de trabalhadores em regime precário?
Enquanto isso, nas redações, não há plano de carreira, a maioria não é contratada e trabalha em regime precário como PJ, ou ainda, no cúmulo da bizarrice, como “frila fixo”. Muitos veículos não pagam hora extra para seus funcionários e tampouco têm cartão de ponto — resultado: as horas trabalhadas a mais ficam “de graça”. O assédio moral é constante: tomar furos e cometer erros irrelevantes são consideradas faltas graves e podem levar à perda do emprego. Ao passo que o trabalho extenuante é considerado mera obrigação do profissional.
Como se não bastasse, as demissões acontecem sem o menor respeito pelos profissionais. Não há aviso prévio, não há negociação, não há ao menos justificativa para os cortes. Nas últimas semanas de existência do Jornal da Tarde, os colegas que lá trabalhavam passaram pela humilhante situação de não saberem se os boatos sobre o fim do jornal eram verdadeiros. Não sabiam se teriam seus empregos garantidos, mas ainda assim eram cobrados para fechar a edição do dia seguinte.
Enquanto isso, a circulação dos veículos de comunicação brasileiros só aumenta. Cresceu 3,5% em 2011. Os sites publicam notícias propagandeando número recorde de acessos, e os donos das emissoras de TV estão entre os mais ricos do país. No Brasil, portanto, a maior parte das demissões destina-se a ampliar a margem de lucro das empresas jornalísticas pela via da rotatividade, por meio da contratação de substitutos por salários menores, ou por enxugamento do quadro de pessoal sem preenchimento das vagas, obrigando os jornalistas remanescentes a assumir mais tarefas.
O setor de mídia revela-se entusiasta de uma prática recorrente na economia brasileira, a da alta rotatividade da força de trabalho. Segundo o Dieese, em 2007 o índice de demissões sem justa causa no país alcançou quase 60%! “A facilidade para demitir trabalhadores permite que as empresas utilizem esse mecanismo de rotatividade para reduzir os custos salariais, desligando profissionais que recebem maiores salários e contratando outros por menores salários”, diz o Dieese.
A verdade é que vivemos tempos de total descaso dos patrões em relação a seus funcionários jornalistas. Como exercer a profissão plenamente, de forma crítica e criativa, nessas condições? Apesar de garantir prestígio e lucros para os donos dos veículos, nosso trabalho não é valorizado.
Somos trabalhadores e exigimos respeito! A situação da categoria não pode ficar como está. Chega de demissões imotivadas! Seu único objetivo é ampliar a margem de lucro dos grandes veículos de comunicação.
Basta de desrespeito! Os jornalistas têm direito a descanso e a receber pelas horas trabalhadas a mais. Têm direito a um trabalho digno!
Pela valorização do jornalista!
São Paulo, 8 de janeiro de 2013
Bia Barbosa
Fausto Salvadori
Hugo Fanton
Pedro Malavolta
Pedro Pomar
Vivian Fernandes
Guilherme Alpendre