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Abaixo-assinado Carta aberta à comunidade unespiana

Para: Comunidade unespiana

Carta aberta à comunidade unespiana

A universidade, desde a alta idade média, teve como característica principal a construção do conhecimento e a consolidação de sua autonomia. Esse processo de longa duração ocorreu numa conjuntura histórica hegemonizada pelo catolicismo, em que se lutava contra seu monopólio epistêmico e pedagógico. A intransigência das instituições religiosas e a coerção exercida possibilitou a organização de mestres, artífices, aprendizes, discípulos, etc. em torno de entidades que articulavam seus objetivos comuns: formavam-se as corporações de ofício que não só constituíam uma nova ordem, mas também uma nova visão mundo. A universidade, então, nascia a partir de uma corporação de ofício de estudantes e professores, exatamente num período denominado pela antiga historiografia como a “idade das trevas”, na qual se testemunhou a destruição de bibliotecas, implantou-se o medo das invasões bárbaras, das guerras santas, o terror cultural e uma atmosfera desfavorável ao desenvolvimento das artes e das ciências laicas. A universidade surgia, naquele momento, como uma ordem oásica, afirmando-se na liberdade do pensamento e do livre debate de ideias. O que, aliás, se fez consolidar nos séculos seguintes, quando a universidade gozou de prestígio, respeito e de capacidade intelectual suficiente para pensar a si mesma e a sociedade na sua amplitude e complexidade.
Contudo, sem considerar qualquer tipo de fundamentação histórica da universidade e do seu papel no processo de construção de uma visão de mundo no seio da vida social, o que vemos atualmente é desmantelamento sistemático das instituições de ensino e pesquisa no Brasil. Não significa que devamos retomar as bases medievais da universidade nos trópicos, mas parece que ela própria vem sendo tragada por aquilo que, na sua origem, ela mesma combateu: a violência contra o pensamento e a liberdade. Constata-se, por exemplo, que desde 2008, os dirigentes das universidades paulistas vêm utilizando um artifício pouco afeito ao caráter iluminista das instituições de ensino e pesquisa: a utilização da força, em vez, do diálogo e do debate de ideias para resolução dos problemas internos das universidades. As sucessivas reintegrações de posse solicitadas e autorizadas pelas direções dessas instituições, com a utilização gratuita e irresponsável da tropa de choque, vem sumariamente impedindo qualquer possibilidade de diálogo ou negociação.
Situação que ora se torna ainda mais complexa, frente às recentes mobilizações nos grandes centros urbanos, em torno de demandas sociais que exigem a ampliação de direitos e a democratização dos espaços públicos, hoje crescentemente privatizados e sustentados por uma visão de mundo míope que se institui numa ordem jurídica pautada pelo gerencialismo e pela preocupação com a “saúde administrativa” das instituições.
A universidade não está imune a este processo em curso porque ela própria é objeto de debate da ampliação dos direitos (de acesso e de permanência) e de democratização de suas estruturas organizacionais. Ao impor o instrumento da força no controle dos “bárbaros medievos” a direção das universidades não protege o patrimônio público da depredação e da destruição vândala. Ela mesma propicia a sua destruição na medida em que patrimônio e propriedade são categorias atinentes à esfera privada e dos interesses individuais e personalistas. E seus diretores quando aderem ao discurso patrimonialista e a noções neoliberais de propriedade, a rigor, defendem apenas seus próprios interesses – que dependem da monumentalização do patrimônio, que simbolicamente ostenta e reforça a existência da ordem e do poder vigentes.
É preciso, pois, atentar para as novas condições que ora se colocam no horizonte das universidades em países como o nosso. Diferentemente das instituições europeias ou norte-americanas, nossas universidades estão intimamente atreladas ao processo de construção das democracias nacionais, do fortalecimento dos espaços públicos e da livre circulação de ideias. Ao contrário de um empreendimento, a universidade tem compromisso com a formação do sujeito – este é seu maior patrimônio (imaterial). Disso não podemos abrir mão com o risco de repetirmos ininterruptamente eventos como do último dia 17 de julho, na sede da reitoria da Unesp. Somos, pois, contrários à judicialização das relações acadêmicas e repudiamos os atos de reintegração de posse daí decorrentes. Antes de qualquer coisa, não devemos nos esquecer que a universidade não é feita de tijolos, marquises, colunas e balaústras. Ela é feita de gente.
Assim, condenamos a utilização do aparato policial na universidade como forma de defesa do patrimônio, pois tal prática reforça a índole privatista e patrimonialista do erário público, além de irromper o caráter de diálogo, mediação e liberdade de pensamento presente na universidade moderna.

Marília, 20 de julho de 2013.


Assinam essa carta aberta:

Angélica Lovatto (Unesp/Marília)
Cássio Garcia (Unesp/Franca)
Débora Goulart (Unesp/Marília)
Fábio Ocada (Unesp/Marília)
Lalo Watanabe Minto (Unesp/Marília)
Lívia de Cássia Godoi Moraes (Unesp/Franca)
Marcelo Lira (Unesp/Marília)
Marcelo Totti (Unesp/Marília)
Rodrigo Czajka (Unesp/Marília)
Silvia Aparecida de Sousa Fernandes (Unesp/Marília)
Vitor Machado (Unesp/Bauru)




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Esta petição foi criada em 20 julho 2013
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